E não sei muito bem como, mas depois de uma longa conversa e de me levantar do sofá e voltar a deitar, hesitante, não sei quantas vezes, dei por mim no terraço da casa dele. Ficámos ali, debaixo do céu gelado, sentados, a olhar um para o outro. E depois fomo-nos deitar no sofá. E conversámos. E conversámos. E conversámos. Parecia que aquele tinha sido desde sempre o meu sofá. Aquela tinha sido desde sempre a minha sala. Foi como se nunca tivesse saído de lá. Como se não houvesse nenhum outro sítio onde eu devesse estar, se não ali. Com ele! Em todas as formas ridículas, hipócritas, mas românticas caramba, de ver esta situação. Deitei-me enroscada na curva da sua cintura. E senti-me bem. Finalmente bem. Estou cheia de analogias idiotas e lamechas, eu sei, mas senti-me como se tivesse saído de um filme a preto e branco. Estava envolta em cores. Mil cores! Ele estava aqui, à minha frente, podia tocar-lhe no cabelo, no rosto, nos braços. Mas isto é simples. Eu e ele vemos o mundo da mesma forma. Quando olho para ele, sei que não somos nós que estamos loucos, o mundo é que está. E o sol ja estava a nascer, quando me levantei e fui para casa. No ar gelado da madrugada, abraçámo-nos durante não sei quanto tempo. Vi-o partir. Despedi-me mentalmente dele não sei quantas vezes, corri atrás dele, puxei-o para mim e beijei-o. Mas, na realidade, não fiz nada disto. De todos os cenários hipotéticos que me passavam pela cabeça, escolhi o mais correcto a fazer. Deixei-o ir. Com a certeza absoluta que eu, ele e a outra vamos dormir mais leves esta noite.
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