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Foto do escritorHelena Magalhães

5 dicas para quem quer escrever um livro (e abordar uma editora)


Uma das coisas que, desde que saiu o Diz-lhe Que Não, mais me têm perguntado é como abordar editoras, como conseguir um contrato, como escrever, no sentido prático, um livro. Porque era muito bonito se bastasse escrever. Ideias todos temos. Mas ter uma boa ideia ou ter uma editora que acredite em nós já não é tão fácil assim nos dias de hoje. E o mais triste no meio disto tudo foram as histórias que me contaram e que mostram como ainda há muito boa gente neste mercado a aproveitar-se dos (nossos) sonhos.

Várias coisas que penso que podem ser úteis a toda a gente que sonha em editar um livro:


1. É clichê mas não podem desanimar ao primeiro não

Portugal é pequenino mas existem muuuuuitas editoras. E é preciso fazer-se um trabalho de campo, estudar o core business de cada editora e abordar aquelas que já trabalham com livros que vão de encontro ao vosso. Terem escrito um romance e abordarem uma editora que edita maioritariamente livros de auto-ajuda não faz grande sentido. Depois vão ouvir nãos. A sério, são raras as pessoas “anónimas” (como eu também era) que conseguem um sim ao primeiro contacto. A própria J.K.Rowling viu o seu Harry Potter ser rejeitado por 10 editoras até chegar a uma que acreditou no projecto do pequeno (gigante!) mágico.

2. Não acreditem nas editoras de autor

Não estou com isto a dizer que este tipo de editoras, como a Chiado Editora, são más. Estou apenas a dizer que não são a melhor opção nem nunca devem ser a última solução para desenrascar. Eles vendem um conceito muito básico: “Todos os autores famosos começaram por ser desconhecidos”. É bonito, não é? Mas também é um conceito demasiado embelezado para a nossa realidade. O que acontece é que eles editam qualquer livro – bom ou mau – e o autor fica obrigado a comprar um X número de exemplares que basicamente pague os gastos que a editora teve. O que é que acontece no fim? Um autor fica com 500 livros em sua posse que tem de vender nos seus próprios meios e a editora está-se um pouco nas tintas para isso. Como ninguém vai andar a vender livros porta a porta como nos tempos da Círculo de Leitores (que nostalgia!), o resultado acaba por ser desanimador. Além disso, estas editoras envolvem-se muito pouco nos livros que editam e isso é a chave para o sucesso. Uma das formas de conseguir um bom resultado também está relacionado com os distribuidores. Se o livro não estiver na Fnac ou nos hipermercados como o Jumbo, dificilmente vai chegar ao consumidor final. Uma editora que não se envolva na distribuição vai (perdoem-me) assassinar o livro. Um autor sozinho não consegue nunca chegar às grandes distribuidoras.

3. O que é que uma boa editora faz?

Bem, uma das coisas que a Esfera dos Livros me disse – e que me fez apaixonar por eles – foi que um livro é um trabalho criado a meias entre o autor e o editor. Ou seja, o autor pode ter a ideia e escrevê-la, mas a editora dá vida a essa ideia, lima as suas arestas, puxa o lustro para criar o resultado final que envolve uma edição, uma capa e um plano de comunicação. Se fosse só escrever livros e imprimi-los, qualquer pessoa o poderia fazer. Não interessa o quão bons escritores vocês são, todos os livros precisam de uma revisão (as editoras de autor não o fazem e o que sai para a rua é a versão final do próprio autor), precisam de um olho externo que não está envolvido na história e consegue lê-la de um ponto de vista mais “frio”. Acreditem, o Diz-lhe Que Não teve imensas revisões até chegarmos à versão final. Alterámos várias coisas e o revisor chamou-me a atenção para muitas ideias que não estavam bem estruturadas. Já li alguns livros editados pela Chiado Editora e uma das coisas que notei (além dos erros ortográficos que, enfim, passam a toda a gente) foram as pontas soltas e os contra-sensos das histórias que só um leitor de fora consegue identificar.

4. Como abordar uma editora?

A Catarina Sousa que, na semana passada, lançou o seu primeiro livro (“Licenciei-me e agora?“) disse uma coisa com a qual me identifiquei bastante: é preciso não termos medo de bater à porta e apresentar a nossa ideia. Pode funcionar como pode não funcionar. Há editoras que vão pedir um manuscrito, outras vão querer ler o livro todo sem compromisso, outras poderão mesmo aceitar uma reunião presencial para se discutir a ideia. E, sim, outras vão ignorar. Não há uma fórmula mágica para isso, vai sempre depender de quem está do outro lado. No meu caso, foi muito mais simples do que alguma vez imaginei: contactei a Esfera dos Livros, disse-lhes que tinha uma ideia para um livro (eles já conheciam qb este blog), aceitaram reunir comigo, falei-lhes da rubrica “O Amor é Outra Coisa”, mostrei alguns exemplos de posts que tinham tido boa audiência e eles acharam piada. Na verdade, quando lá fui, eu própria nem sequer ainda sabia como queria que o Diz-lhe Que Não ficasse. Não fazia sequer a mínima ideia do resultado final porque não tinha nada estruturado na minha cabeça. Mas eles acreditaram que poderia funcionar. Se me deram luz verde? Claro que não. Também não são malucos e, sendo muito prática, não me conheciam de lado nenhum. Incentivaram-me a começar, ajudaram-me a estruturar a ideia, deram-me muitas dicas mas nunca se iriam comprometer sem ver, de facto, alguma coisa palpável. Então, a minha dica é sempre terem um manuscrito com uma parte do vosso livro para a editora poder ler, conhecer-vos, conhecer a vossa escrita e envolver-se com a vossa ideia.

5. Como saber se um ideia é uma boa ideia

Não há forma de saber, na verdade. Quando estamos apaixonados pela nossa ideia, dificilmente conseguimos apontar-lhe defeitos. Uma das coisas que fiz foi enviar alguns capítulos do Diz-lhe Que Não a amigas e pedi que lessem de uma forma muito crua, como se não fosse escrito por mim. Queria saber se, a um leitor final, os capítulos interessavam, criavam algum “tesão” por assim dizer, alguma vontade em ler mais. As respostas foram mais do que positivas. Todas me disseram que estava intenso, divertido, que queriam ler mais, que se tinham rido e tinham ficado envolvidas na história. Isso foi positivo para mim no sentido que me fez acreditar na minha ideia. Mas claro que nada é tão preto no branco assim… Os nossos amigos também são quem tem mais dificuldade em magoar-nos e, com isso, não conseguem, muitas vezes, destruir-nos o sonho ao apontar algum defeito. Mas ter mais pessoas a acreditar na vossa ideia é meio caminho andado para, talvez, ser mesmo uma boa ideia.

É fácil cairmos em soluções fáceis quando queremos muito chegar a um sonho. E é isso que é importante termos bem ciente dentro de nós. Quando era adolescente, todas as raparigas queriam ser modelos. Na altura, falava-se muito das trafulhices das agências que faziam as raparigas pagar para terem books quando, na verdade, uma boa agência descobre um talento, acredita nele e tenta vendê-lo.

Com as editoras é igual. Uma editora que acredite em vocês não vos vai fazer pagar para editarem o vosso livro. Porque, no final do dia, vai acreditar no vosso sucesso. E o vosso sucesso… é o sucesso da editora 🙂

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